quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Partida do Eusébio - Ano de 2014



Partida do Eusébio - Ano de 2014

Da minha janela de memórias, fixei-me no ano de 1968.
Pela primeira vez viajei de Moçambique para Portugal, sozinho, ao encontro dos meus avós paternos: o avô Delgado e a avó Raquel.
Ambos, flamejantes adeptos do Benfica.
Literalmente pela mão de ambos, conheci com eles, o ritual dos domingos de jogo na Luz.
Saíamos de casa, da Avenida Miguel Bombarda, pelas 10h30 em direcção ao Campo Grande.
Havia um passeio recto onde me deliciava a andar de bicicleta que, naquele local, se alugava aos 15 minutos.
Depois, avançávamos para o lago do Campo Grande (dentro do jardim) e navegava, empolgado e compenetrado, num dos barquinhos a remos. Sempre vigiado pela, sempre rigorosa, avó Raquel não fosse eu sujar-me ou cair ao lago.
Terminada a aventura, “tocava” a hora do almoço onde, com visível orgulho do meu avô e grande irritação da minha avó, bebia um “copo de vinho”: 99% de gasosa e 1 colher de sopa de vinho carrascão.
Aproximava-se a hora do jogo e lá ia eu, radiante, nos meus calções, casaquinho, lacinho a condizer e boné, ao encontro do meu Benfica.
Meu Benfica, sim senhor, porque ainda estava na barriga da minha mãe e já os meus avós me haviam feito sócio provisório da Águia.
O meu avô era de uma educação extrema e dotado de um sentido de humor apurado (de cujo filho, senhor meu Pai, era ainda mais refinado).
Era caixeiro-viajante e defendia que não podia haver ordinarices nem palavrões na comunicação entre pessoas.
A minha avó Raquel idem. 
Era muita alta, unhas enormes, carrapito e sempre impecavelmente trajada.
Já no estádio, o avô Delgado deixava a avó no camarote e levava-me pela mão ao balneário dos jogadores.
O grande Delgado, apresentava-me à equipa e todos me faziam sentir ENORME e IMPORTANTE.
Foi assim que conheci, ao vivo e por diversas vezes o Rei Eusébio, o Humberto Coelho, Coluna, José Henriques, Simões, Jaime Graça, Toni, Jacinto, Torres, Cruz, Raul Machado, Adolfo, Praia, Zeca, Abel, Mata da Silva, Humberto Fernandes, Nené, Nascimento, Raul, Águas, Cavém, Manuel José, Pavão e Abrantes.
O treinador era Otto Glória.
Início do jogo: estarrecido e incrédulo revi os meus avós levantarem-se irados e a proferirem todos os palavrões possíveis e imaginários contra o árbitro e a equipa adversária.
Chegado o intervalo, os meus avós transformam-se 180º. Serenos e carinhosos comigo como se nada se tivesse passado e a perguntarem-me:
“Então Vasquinho, estás a gostar?”
“O nosso Benfica até que podia fazer melhor, mas vamos ganhar isto”
“Queres um gelado?”
Muitos anos mais tarde, a Vida permitiu-me conhecer um pouco melhor o Eusébio quando viveu na Charneca da Caparica, a menos de 300 metros da minha casa.
O mesmo aconteceu com o Torres (homem altíssimo e humano, tanto como era o meu Pai) através do seu filho e nora de quem fui colega de ambos.
Nota final: da minha janela fica o registo que nesta época de 1968/69 o Benfica ganhou o Campeonato e a Taça de Portugal.
O grande Eusébio foi o melhor marcador da temporada com 29 golos.

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