A
Portuguesa
14 de Fevereiro de 2014.
Estou sentado e embrutecido junto à minha janela a
meditar nas sinistras iniciais da SS
portuguesa.
Refiro-me à Segurança Social, para que não restem
dúvidas.
Faço parte, desde Janeiro, da estatística dos que ficaram
sem trabalho.
“ A Vida tem altos e baixos”.
“Aprender até morrer”.
“Ver sempre o lado positivo das coisas”.
“Fecha-se uma porta, abre-se uma janela”.
Com estas verdades populares vou contar-vos o que tenho
aprendido:
- Passei a ser um número,
- Sou obrigado a levantar-me às 6h00 para ocupar um lugar
na fila infinita para a SS,
- Janeiro e Fevereiro têm sido agrestes com frio, ventos
ciclónicos e chuva copiosa, a maior dos últimos 50 anos, dizem.
A SS abre
às 9h00 mas não há contemplações aos infinitos “novos judeus” para se abrigarem
dentro das instalações, até ao exacto segundo da hora de abertura.
Há espaço e há nobres oficiais a entrarem nas instalações,
antes da hora, mas nada de facilitismos para a corja que lá está fora.
- Depois da abertura dos serviços temos que pedir imensa
desculpa por ter chegado a este estatuto: desde o Segurança Social até ao Cabo
que nos atende.
- De 15 em 15 dias, temos que nos apresentar na Junta e
fazer prova que estamos muito arrependidos e que “intensamente” buscamos uma
nova condição social.
-Temos que nos apresentar num curso de “Formação
Transversal Obrigatória” para nos ensinarem a procurar um trabalho.
Felicidade das felicidades: se cumprirmos, as 25h00 de ensinamentos, dão-nos 4,
20 euros por cada dia que estivermos presentes. Mas se falharmos perdemos esta
grande dádiva.
O curso fica a 5 euros/dia de transportes públicos, mas
isso não interessa nada.
- Não nos podemos ausentar do país sem autorização
suprema
- Não podemos ter nenhuma actividade sob pena de ficar
sem a “côdea de pão” da SS.
- Há uma SS Directa:
não atendem nem respondem a nenhuma questão que nos aflija.
- Se suspendermos a “côdea de pão”, temos que comunicar
ao Big Brother das Finanças + SS +
IEFP. Tens que cumprir com 29% para a SS
(mensalmente) e 25% à cabeça do recibo verde para o
Big Brother. Atentem bem: recebes 40 euros/dia e pagas 25,97 euros ao “Estado –
Pessoa de Bem).Ficas com 14,03 euros. Tive que esquecer o significado de
agiotismo.
Para aguentar esta experiência, tenho-me refugiado nos
ensinamentos do filme “A Vida é Bela”, dirigido e protagonizado por Roberto
Benini.
Sobretudo porque tenho filhos para criar!
Gostava muito de fazer uma visita guiada com as duas
eminências pardas que, neste momento, comandam este “campo de concentração”: o
Ministro da Solidariedade, Emprego e Segurança Social (Herr Dr. Pedro Mota
Soares) e o seu Ajudante de Campo: Herr
Dr. Agostinho Branquinho.
O agendamento teria que obedecer a uma única condição:
estar o tempo com alerta vermelho ou laranja, mas com
garantias, destas condições, dadas pela força aérea. As outras fontes são muito
afectas ao regime e suas falibilidades.
Começaria por lhes agradecer tanto esmero e cuidado em me
“protegerem” e aproveitava para lhes perguntar (para melhor poder cumprir com o
Estado de Direito a que eles pertencem):
- Como procurar emprego sem se ter internet?
- Como pagar deslocações, a dezenas de quilómetros de
casa, para fazer as apresentações e cursinhos doutrinais?
- Onde deixar os filhos de meses, quando se parte para
aquelas deslocações obrigatórias?
- Onde podemos aprender a gerir um exíguo subsídio com as
despesas inerentes àquelas obrigações?
-Como chegar às empresas, para entrevistas e
apresentações de CV, que ficam a léguas do local onde vivemos?
Durante muito tempo ( e ainda hoje) se pensou (ou pensa)
que os “novos judeus” do século 21 não querem trabalhar e que preferem viver à
custa do Estado (pessoa de bem?????!!!!!).
A questão é simples: se o que se recebe da SS são 500 euros e o que se paga, numa
oportunidade de trabalho, é 490 euros sujeito a descontos (e sem garantia de ter
trabalho em período igual ao de atribuição da “côdea de pão”), o que devemos
escolher?
A resolução é ainda mais simples: porque não paga o
Estado (Pessoa de Bem???!!!) o diferencial ao novo judeu e beneficia a empresa
com a isenção dos inerentes encargos?
Não ganhariam as três partes?
Claro que ganhariam, mas
não era a mesma coisa.
Foi por conta destas situações que eu perdi uma excelente
oportunidade de poder dar aulas, numa reputada Universidade, onde podia estar
ocupado e sentir-me útil.
O estar desempregado é sinónimo de ter cancro.
Acreditem
se quiserem mas sei bem do que vos falo. E a minha família também.
Garanto, meus caros, que o Estado não é pessoa de bem, vai
para mais de 30 anos.
O estado já não somos nós, os cidadãos, meu caro Piero
Calamandrei.
Tanta coisa mudou desde 1955…. Onde quer que estejas, esta
é a verdade deste continente europeu em 2014.
O Estado trata, intensamente, de chutar todos os “judeus
novos” para um qualquer alcoice.
E que não o chateiem.
Grande Eça de Queiroz, deixa-te estar onde estás, desde
1900, porque nada mudou, nas tuas descrições, desde então!
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