quarta-feira, 28 de maio de 2014

Homenagem a Maria Rosa Colaço e Romeu Correia




Passaram-se já 40 anos desde o 25 de Abril de 1974.
Neste contexto organizou a USALMA (Universidade Sénior de Almada) e a Camara Municipal de Almada um encontro de homenagem a Maria Rosa Colaço e o seu Amigo Romeu Correia.
Alunos, poetas (comovido e agradecido a Alexandre Castanheira), músicos (obrigado Francisco Naia), professores (aplausos para a Helena Peixinho e Edite Condeixa) e uma boa dezena de cidadãos anónimos encheram o auditório com a sua presença, sentimentos de gratidão e reconhecimento a duas pessoas que me dizem muito.
Uma, Maria Rosa Colaço, por ser minha Mãe.
O outro por ser AMIGO dos meus pais e tanto me ter ensinado sobre a história e as estórias de Almada e suas gentes: Romeu Correia.
Passados tantos anos (parecendo, contudo, que foi ontem) que aqueles vultos nos deixaram e saber que ainda há tantos que os recordam significa que eles estão bem vivos. As suas obras e valores foram partilhados e que valeram a pena.
Esta homenagem teve a particularidade riquíssima de cruzar duas pessoas que se admiravam e respeitavam desde muito novos.
As suas lutas pela LIBERDADE valeram mesmo a pena. Que saibamos, todos, conservar aquele valor maior do ser humano!
Foi com mestria e muita alma que a Helena Peixinho, o Alexandre Castanheira, o Francisco Naia, os professores e alunos souberam ligar o Ágora das obras do Romeu Correia e da Maria Rosa Colaço.

Almada, 24 de Maio de 2014.

quarta-feira, 26 de março de 2014

A FOME


Falta ao meu país um pouco mais de poesia.


"Quando um Homem Quiser" - Ary dos Santos
... E tu que vês na montra a tua fome que eu não sei
Fatias de tristeza em cada alegre bolo-rei
Pões um sabor amargo em cada doce que comprei
És meu Irmão amigo
És meu Irmão

"A Cortiça" - Ary dos Santos
É preciso dizer-se o que acontece
no meu país de sol
há gente que arrefece   que arrefece
de sol a sol
de mal a mal
.......
É preciso dizer-se o que se passa
no meu país de treva
uma fome tão grande que trespassa
o ventre de quem a leva
É preciso dizer-se o que se passa
no meu país de treva
........

António Cícero da Silva
A fome é terrível
Tem cara de herege
Não é nada compreensível
Somente sabe quem padece

Fome terrível de alimentos
Por falta de comida
Também fome de respeitos
Por discrepância inserida

Fome grave de emprego
Por faltas de oportunidade
Que se torna um pesadelo

Fome de melhor administração
Por falta de consideração e apreço
Por tanta desilusão

A Velha da Guilhotina


Por mais que lute contra a depressão e por mais que queira ser positivo dou-me conta que me faltam forças anímicas e outras…
Efectivamente o Estado deixou de ser uma pessoa de bem e passou a ser um alcoice de gente incapaz, impreparada, arrogante e insensível. Sempre forte com os fracos e cobarde com os “poderosos”.
Estamos em 2014 e, a cada dia, nos chegam dados assustadores que reforçam a realidade dramática da maioria dos portugueses.
Essa maioria, que só quem não quer é que não vê (a chamada cegueira selectiva), sente na pele ou conhece de perto alguém no desemprego; alguém com vinte e poucos anos que não pode sair da casa dos pais por falta de meios ou alguém que teve de regressar para casa deles ou dos avós por lhe ter faltado o sustento base de vida.
 A segurança social é agora o seio das famílias de reformados. Reformados que confiaram no Estado para uma reforma digna e a quem, qual saprófitas, lhes têm roubado os valores garantidos.
Estamos em 2014 e 2,3 milhões de portugueses, em idade activa, estão em risco total de pobreza (entre os desocupados jovens e desempregados). Coisa pouca para uma população de 10,56 milhões em que a maioria é de gente cada vez mais velha.
A politicagem e pseudo economistas olham para a realidade com os padrões teóricos em que sempre governaram. Incapazes de aplicar soluções de contra-ciclo para poderem assegurar os seus negócios.
Com arrojo e determinação como foi feito por muitos governantes ao longo da nossa história.
O serviço público foi anulado para que as negociatas se eternizem e sempre à custa daqueles que não podem fugir ao roubo fiscal.
Estamos em Março de 2014 e há uma realidade medida pelo INE quanto à Privação Material.
A Privação Material engloba 9 itens:
 1) sem capacidade para assegurar o pagamento imediato de uma despesa inesperada, próxima do valor mensal da linha de pobreza (sem recorrer a empréstimo); 2) sem capacidade para pagar uma semana de férias, por ano, fora de casa, suportando a despesa de alojamento e viagem para todos os membros do agregado; 3) atraso, motivado por dificuldades económicas, em algum dos pagamentos regulares relativos a rendas, prestações de crédito ou  despesas correntes da residência principal, ou outras despesas não relacionadas com a residência principal; 4) sem capacidade financeira para ter uma refeição de carne ou peixe (ou equivalente vegetariano) pelo menos de dois em dois dias; 5) sem capacidade financeira para manter a casa adequadamente aquecida; 6) sem disponibilidade de máquina de lavar roupa por dificuldades económicas; 7) sem disponibilidade de televisão a cores por dificuldades económicas, 8) sem disponibilidade de telefone fixo ou telemóvel por dificuldades económicas; 9) sem disponibilidade de automóvel (ligeiro de passageiros ou misto) por dificuldades económicas.
Tendo por base esta metodologia, vive em privação material quem é afectado por pelo menos três das dificuldades descritas, ao passo que há privação material severa quando se verificam pelo menos quatro das nove dificuldades.
Surpresa? De todo que não.
A história repete-se apesar dos ingredientes serem sempre diferentes.
Pela indiferença dos políticos aconteceu a 1ª Guerra e a 2ª Guerra em menos de cem anos.
Alguém se lembra da FOME em Setúbal, entre 1983 e 1985, em que encerraram 132 fábricas?
E dos milhares de desempregados e dezenas de suicídios?
E do grito, contra a indiferença dos políticos, do Bispo “Vermelho” D. Manuel da Silva Martins? Isto foi há 31 anos.
É altura de aplicar a Velha da Guilhotina neste país governado por indulgentes!

sábado, 15 de março de 2014

Alguns dos mais Belos Lugares do Mundo

"Alguns dos mais belos lugares do mundo estão no corpo da tua mulher"
George Oppen

Borboleta com Homem dentro


Monarca - Homenagem ao António


Sob o título “Salvar uma Borboleta é Salvar o Mundo – Expresso de 22 de Fevereiro de 2014”, o padre José Tolentino Mendonça deu conta que 150 intelectuais de todo o mundo, encabeçados pelos escritores Orhan Pamuk e Margaret Eleanor Atwood fizeram chegar estes dias à mesa dos Presidentes dos Estados Unidos, Canadá e México um pedido singular: que se reúnam esforços para salvar uma borboleta ameaçada de extinção. 
A borboleta Monarca.
O artigo /alerta diz ainda que os entomólogos apressaram-se a esclarecer-nos que, por mais estranho que possa parecer à opinião pública, a realidade é esta: o desaparecimento de uma espécie deveria colocar-nos a todos em sobressalto, pois, se as borboletas estão mal, isso quer dizer simplesmente que o nosso planeta também não está bem.
Esta reflexão trouxe-me uma lembrança simultaneamente forte, terna e amarga, vivida, num dos dias da minha actividade profissional, num hotel de Lisboa onde trabalhava.
Um cliente nosso passava, todos os meses, uma semana connosco.
Quando o via entrar no hall do hotel era um alegria enorme para mim porque sabia que iria ter mais um momento de conversa e de sabedoria imensa.
Chegava sempre ao fim do dia, com uma pasta pequenina e um enorme sorriso estampado no rosto.
O António (nome fictício) era investigador e a sua área de eleição eram as borboletas.
O projecto que levava a cabo era o estudo dos hábitos e distâncias que percorriam uma família de borboletas, em Lisboa, através da colocação de transmissores no corpo de cada um dos exemplares.
A cada detalhe, que partilhava comigo, os seus olhos e mãos iluminavam-se.
Pelo meu lado, a curiosidade era tamanha e a cada pergunta minha, o António acrescentava mais entusiasmo e dimensão às explicações que dava.
Sempre claras, sempre com paixão e amor às suas borboletas e a importância que elas representavam ao nosso meio ambiente que o Homem não valorizava.
Por ignorância. Como tantas coisas que nos rodeiam…
Mas o António era uma pessoa carente de ternura que não dizia mas que se sentia quando, sozinho, estava no bar a beber o seu chá e a sua torrada antes de subir ao quarto para dormir.
Um dia o António não aguentou a solidão.
Escreveu uma carta de despedida à família e uma carta de desculpas para mim.
Deixou-as alinhadas no aparador do seu quarto virado ao Tejo.
Correu as cortinas.
Calmamente, o que quer que isto possa significar, tomou um cocktail de calmantes.
Alinhou o seu fato e gravata e penteou-se.
Conhecedor da construção de um bom casulo, meteu-se num porta fatos transparente com uma almofada fofa, para a sua viagem ser mais tranquila.
Fechou o zip, do porta fatos, até ao fim.
Anichado no seu interior tentou imitar, ao máximo, o que sempre cuidou de descobrir no mundo das suas borboletas.
Aliviou-se dos seus tormentos e da sua solidão fechando os olhos.
Entregou-se ao seu mundo de sonhos e partiu, num voou integrado da família das borboletas.
Era um ser Humano de Alma muito grande num corpo muito, mas mesmo muito, pequenino tal como as suas amadas.
“Salvar uma Borboleta é Salvar o Mundo”, tenho eu a certeza.
Assim todos nós o desejemos.
Nota final: uma Universidade portuguesa concluiu, este ano, que quanto maior são as habilitações dos portugueses maior é a indiferença pelo seu semelhante. Dá que pensar!

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Leiria dos Graffitters de Rua













Leiria do Poeta Francisco Rodrigues Lobo e de Miguel Torga



Adolfo Correia da Rocha, o mais conhecido Miguel Torga, fez parte de Leiria entre 1939 e 1941.
Foi nesta cidade que, em 1940, escreveu os "Bichos" e teceu o seu elogio aos tempos ali passados:
"Dos anos que passei em Leiria, a todos os títulos singulares e decisivos no meu destino, guardo duas riquezas de que sou avaro: o encantamento da sua paisagem - uma das mais harmoniosas de quanto conheço - e a lição de algumas humanidades exemplares".
 Dele ficou célebre a frase: " O meu partido é o Mapa de Portugal".

Leiria de D. Dinis e seu Pinhal









Leiria das Judiarias, dos Hortas e da Inquisição


Largo do Gato Preto

Leiria Queirosina

Mestre Lagoa Henriques - Homenagem ao Rio Lis e Lena

Castelo de Leiria, conquistada aos Mouros por D. Afonso Henriques
em 1135.
No interior encontra-se a Torre de Menagem (D. Dinis) e
Os Paços Novos (D. João II)

A 30 de de Junho de 1870 tomou posse, como Administrador do Concelho de Leiria, José Maria Eça de Queiroz.
Como ele dizia, no "seu exílio administrativo", escreveu o seu livro " O Crime do Padre Amaro",
A todos aqueles que, por vezes, não sabem onde ir façam o favor de descobrir um pouco do tanto que a nossa terra tem.








Moinho do Papel - 1411 
Sé de Leiria - 1550

Homenagem ao Porto


Pintura a óleo de António Gaspar
O Porto foi considerado, pelo segundo ano consecutivo, uma das cidades mundiais mais importantes a descobrir e conhecer.
Imperdível sem dúvida! Justamente reconhecido e merecido.
Descrevê-lo não basta. 
Tem que se viver aquela terra, aquelas gentes, aqueles sons, cores, história, estórias, luz, nectares, gastronomia, e...................................................... 
É com António Gaspar que melhor consigo, hoje e sempre, sentir o quanto sou feliz naquele espaço. 

Papa Francisco

"Há algo mais Humilhante do que não poder ganhar o pão?
O Pão nosso de cada dia"


As Mãos do Meu Pai

António de Lille Delgado Malaquias de Lemos

Todos os dias falo com o meu Pai. Homem grande (em altura e dimensão humana), recto, com enorme sentido de humor, lutador de causas justas e com um Amor pelo próximo como poucos.
Dele guardo um porão de tesouros que me foi deixando enquanto me ajudou a crescer.
E ajudou sempre, até partir, mesmo em momentos que julguei que me queria "mal" ou estava desatento. Coisas do crescimento!
Educou-me no gosto pelo belo: do teatro, aos livros, esculturas e desenhos.
Ensinou-me o que era justiça, transparência, verticalidade e honradez. 
O meu Pai desenhava, cortava, recortava, construía e fazia maquetas (de todas as peças de teatro que ensaiou até às casas que imaginou).
No meu escritório, tenho o recorte destas mãos, que em tudo eram iguais às do meu Pai e que por ele foram feitas, recortadas e coladas.
São as mãos que afagam um Deus ou Deusa maiores, articuláveis ou em jeito de aconchego consoante a intensidade do Amor que se tenha neste ou naquele instante.
Imagino-me, sempre, que estou a enlaçar as mãos do meu Pai e com ele a conversar com aquele Deus ou Deusa maior. 

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

A Lisboa que me apetece!

A Lisboa que me apetece

A Lisboa que me apetece foi aquela que me foi dada a descobrir por Amigos como o Professor Agostinho da Siva; Carlos do Carmo; Ary dos Santos; Romeu Correia;Vasco de Lima Couto; João Alves e Alexandra Derboven e pelos olhos de Àlvaro de Campos:


Preciso de espaço

Vasco de Lima Couto

                                                  Para ser feliz       
                             Preciso de espaço
                             Para ser raiz
                             Ter a rede pronta
                              Para o mar de sempre
                              Ter aves e sonho
                              Quando a terra escuta
                              E falar de amor
                              Aos tambores da luta

Refrão

Ter palavras certas
No Sol do caminho
E beber a rir
O doirado vinho
Misturar a vida
Misturar o vento
E nas madrugadas
Quando o povo abraço
Para estar contigo
Preciso de espaço

                             Preciso de espaço
                             Para ser feliz       
                             Preciso de espaço
                             Para ser raiz
                             Caminhar sem ódio
                             Falar sem mentiras
                             Ter meus olhos longe
                              Na luz de uma estrela
                              E ser como um rio
                              Que se agita ao vê-la



Àlvaro de Campos


Lisboa com suas casas
De várias cores,
Lisboa com suas casas
De várias cores,
Lisboa com suas casas
De várias cores...
À força de diferente, isto é monótono.
Como à força de sentir, fico só a pensar.

Se, de noite, deitado mas desperto,
Na lucidez inútil de não poder dormir,
Quero imaginar qualquer coisa
E surge sempre outra (porque há sono,
E, porque há sono, um bocado de sonho),
Quero alongar a vista com que imagino
Por grandes palmares fantásticos,
Mas não vejo mais,
Contra uma espécie de lado de dentro de pálpebras,
Que Lisboa com suas casas
De várias cores.

Sorrio, porque, aqui, deitado, é outra coisa.
A força de monótono, é diferente.
E, à força de ser eu, durmo e esqueço que existo.

Fica só, sem mim, que esqueci porque durmo,
Lisboa com suas casas
De várias cores.






LISBOA MENINA E MOÇA
 José Carlos Ary dos Santos
No Castelo ponho um cotovelo
Em Alfama descanso o olhar
E assim desfaço o novelo
De azul e mar.

À Ribeira encosto a cabeça
Almofada na cama do Tejo
Com lençóis bordados à pressa
Na cambraia de um beijo.

Lisboa menina e moça, menina
Da luz que meus olhos vêem, tão pura
Teus seios são as colinas, varina
Pregão que me traz à porta, ternura.
Cidade a ponto luz, bordada
Toalha à beira-mar, estendida
Lisboa menina e moça, amada
Cidade mulher da minha vida.

No Terreiro eu passo por ti
Mas da Graça eu vejo-te nua
Quando um pombo te olha sorri
És mulher da rua.

E no bairro mais alto do sonho
Ponho o fado que soube inventar
Aguardente de vida e medronho
Que me faz cantar.



Retrato do Povo de Lisboa
José Carlos Ary dos Santos



É da torre mais alta do meu pranto
que eu canto este meu sangue este meu povo.
Dessa torre maior em que apenas sou grande
por me cantar de novo.

Cantar como quem despe a ganga da tristeza
e põe a nu a espádua da saudade
chama que nasce e cresce e morre acesa
em plena liberdade.

É da voz do meu povo uma criança
seminua nas docas de Lisboa
que eu ganho a minha voz
caldo verde sem esperança
laranja de humildade
amarga lança
até que a voz me doa.

Mas nunca se dói só quem a cantar magoa
dói-me o Tejo vazio dói-me a miséria
apunhalada na garganta.
Dói-me o sangue vencido a nódoa negra
punhada no meu canto.



"Toda a vida bem vivida, harmoniosamente vivida, vivida sem faltas, sem manchas, com felicidade, com serenidade, é uma vida medíocre. 
Tudo o que passe do medíocre tem em si o excesso e o erro."  - Professor Agostinho da Silva