quarta-feira, 26 de março de 2014

A Velha da Guilhotina


Por mais que lute contra a depressão e por mais que queira ser positivo dou-me conta que me faltam forças anímicas e outras…
Efectivamente o Estado deixou de ser uma pessoa de bem e passou a ser um alcoice de gente incapaz, impreparada, arrogante e insensível. Sempre forte com os fracos e cobarde com os “poderosos”.
Estamos em 2014 e, a cada dia, nos chegam dados assustadores que reforçam a realidade dramática da maioria dos portugueses.
Essa maioria, que só quem não quer é que não vê (a chamada cegueira selectiva), sente na pele ou conhece de perto alguém no desemprego; alguém com vinte e poucos anos que não pode sair da casa dos pais por falta de meios ou alguém que teve de regressar para casa deles ou dos avós por lhe ter faltado o sustento base de vida.
 A segurança social é agora o seio das famílias de reformados. Reformados que confiaram no Estado para uma reforma digna e a quem, qual saprófitas, lhes têm roubado os valores garantidos.
Estamos em 2014 e 2,3 milhões de portugueses, em idade activa, estão em risco total de pobreza (entre os desocupados jovens e desempregados). Coisa pouca para uma população de 10,56 milhões em que a maioria é de gente cada vez mais velha.
A politicagem e pseudo economistas olham para a realidade com os padrões teóricos em que sempre governaram. Incapazes de aplicar soluções de contra-ciclo para poderem assegurar os seus negócios.
Com arrojo e determinação como foi feito por muitos governantes ao longo da nossa história.
O serviço público foi anulado para que as negociatas se eternizem e sempre à custa daqueles que não podem fugir ao roubo fiscal.
Estamos em Março de 2014 e há uma realidade medida pelo INE quanto à Privação Material.
A Privação Material engloba 9 itens:
 1) sem capacidade para assegurar o pagamento imediato de uma despesa inesperada, próxima do valor mensal da linha de pobreza (sem recorrer a empréstimo); 2) sem capacidade para pagar uma semana de férias, por ano, fora de casa, suportando a despesa de alojamento e viagem para todos os membros do agregado; 3) atraso, motivado por dificuldades económicas, em algum dos pagamentos regulares relativos a rendas, prestações de crédito ou  despesas correntes da residência principal, ou outras despesas não relacionadas com a residência principal; 4) sem capacidade financeira para ter uma refeição de carne ou peixe (ou equivalente vegetariano) pelo menos de dois em dois dias; 5) sem capacidade financeira para manter a casa adequadamente aquecida; 6) sem disponibilidade de máquina de lavar roupa por dificuldades económicas; 7) sem disponibilidade de televisão a cores por dificuldades económicas, 8) sem disponibilidade de telefone fixo ou telemóvel por dificuldades económicas; 9) sem disponibilidade de automóvel (ligeiro de passageiros ou misto) por dificuldades económicas.
Tendo por base esta metodologia, vive em privação material quem é afectado por pelo menos três das dificuldades descritas, ao passo que há privação material severa quando se verificam pelo menos quatro das nove dificuldades.
Surpresa? De todo que não.
A história repete-se apesar dos ingredientes serem sempre diferentes.
Pela indiferença dos políticos aconteceu a 1ª Guerra e a 2ª Guerra em menos de cem anos.
Alguém se lembra da FOME em Setúbal, entre 1983 e 1985, em que encerraram 132 fábricas?
E dos milhares de desempregados e dezenas de suicídios?
E do grito, contra a indiferença dos políticos, do Bispo “Vermelho” D. Manuel da Silva Martins? Isto foi há 31 anos.
É altura de aplicar a Velha da Guilhotina neste país governado por indulgentes!

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