Monarca - Homenagem ao António |
Sob o título “Salvar uma Borboleta é Salvar o Mundo – Expresso de 22 de Fevereiro de 2014”, o padre José Tolentino Mendonça deu conta que 150 intelectuais de todo o mundo, encabeçados pelos escritores Orhan Pamuk e Margaret Eleanor Atwood fizeram chegar estes dias à mesa dos Presidentes dos Estados Unidos, Canadá e México um pedido singular: que se reúnam esforços para salvar uma borboleta ameaçada de extinção.
A borboleta Monarca.
O artigo /alerta diz ainda que os entomólogos apressaram-se a esclarecer-nos que, por mais estranho que possa parecer à opinião pública, a realidade é esta: o desaparecimento de uma espécie deveria colocar-nos a todos em sobressalto, pois, se as borboletas estão mal, isso quer dizer simplesmente que o nosso planeta também não está bem.
Esta reflexão trouxe-me uma lembrança simultaneamente forte, terna e amarga, vivida, num dos dias da minha actividade profissional, num hotel de Lisboa onde trabalhava.
Um cliente nosso passava, todos os meses, uma semana connosco.
Quando o via entrar no hall do hotel era um alegria enorme para mim porque sabia que iria ter mais um momento de conversa e de sabedoria imensa.
Chegava sempre ao fim do dia, com uma pasta pequenina e um enorme sorriso estampado no rosto.
O António (nome fictício) era investigador e a sua área de eleição eram as borboletas.
O projecto que levava a cabo era o estudo dos hábitos e distâncias que percorriam uma família de borboletas, em Lisboa, através da colocação de transmissores no corpo de cada um dos exemplares.
A cada detalhe, que partilhava comigo, os seus olhos e mãos iluminavam-se.
Pelo meu lado, a curiosidade era tamanha e a cada pergunta minha, o António acrescentava mais entusiasmo e dimensão às explicações que dava.
Sempre claras, sempre com paixão e amor às suas borboletas e a importância que elas representavam ao nosso meio ambiente que o Homem não valorizava.
Por ignorância. Como tantas coisas que nos rodeiam…
Mas o António era uma pessoa carente de ternura que não dizia mas que se sentia quando, sozinho, estava no bar a beber o seu chá e a sua torrada antes de subir ao quarto para dormir.
Um dia o António não aguentou a solidão.
Escreveu uma carta de despedida à família e uma carta de desculpas para mim.
Deixou-as alinhadas no aparador do seu quarto virado ao Tejo.
Correu as cortinas.
Calmamente, o que quer que isto possa significar, tomou um cocktail de calmantes.
Alinhou o seu fato e gravata e penteou-se.
Conhecedor da construção de um bom casulo, meteu-se num porta fatos transparente com uma almofada fofa, para a sua viagem ser mais tranquila.
Fechou o zip, do porta fatos, até ao fim.
Anichado no seu interior tentou imitar, ao máximo, o que sempre cuidou de descobrir no mundo das suas borboletas.
Aliviou-se dos seus tormentos e da sua solidão fechando os olhos.
Entregou-se ao seu mundo de sonhos e partiu, num voou integrado da família das borboletas.
Era um ser Humano de Alma muito grande num corpo muito, mas mesmo muito, pequenino tal como as suas amadas.
“Salvar uma Borboleta é Salvar o Mundo”, tenho eu a certeza.
Assim todos nós o desejemos.
Nota final: uma Universidade portuguesa concluiu, este ano, que quanto maior são as habilitações dos portugueses maior é a indiferença pelo seu semelhante. Dá que pensar!
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