Ode às Escadas
Percorremos apressados ao longo das nossas vidas trilhos
mágicos sem nos darmos conta dos pequenos nadas que calcorreamos.
Refiro-me à arquitectura das escadas que preenchem casas,
que nos ajudam a chegar ao cimo de faróis e miradouros quando da Vida falamos.
Sensibilizam-me as pequenas escadas que permitem a uma
parteira ajudar uma mãe e a sua criança a chegar a este mundo ou aquelas outras
que, juntas a uma bela estante, nos conduzem aquele livro que tanto gostamos.
Aterrorizam-me as escadarias encaracoladas que levam às
catacumbas de uma prisão ou ao cadafalso de uma morte anunciada.
Espantam-me aquelas que, possuídas de suavidade e beleza,
fazem parte de uma sala de teatro, de uma casa de música, de um museu ou de uma
sala de cinema.
Depois, com mais cuidado ainda, foco-me nos materiais de que
são feitas as escadas de que vos falo e que o destino me tem permitido subir ou
descer cada uma delas.
Com enlevo dei comigo a escutar, no primeiro dia de 2014, a
minha comadre a falar com os seus botões: Estas escadas têm um som tão
engraçado.